Instituto Guttmacher Solicita Verbas para Promover Aborto em Uganda
NOVA IORQUE, EUA, 8 de maio (C-Fam) Uma organização de pesquisa utilizada por políticos e meios de comunicação como uma fonte objetiva sobre planejamento familiar enviou comunicação de arrecadação de fundos se gabando de que seu trabalho está mudando o debate sobre o aborto em Uganda, um país com fortes leis pró-vida.
Dois emails do Instituto Guttmacher pedem contribuições para ajudá-los a “gerar os dados” para impedir “morte e complicações desnecessárias” de abortos em Uganda. Eles citam o diretor de uma organização que trabalha para “avançar justiça social” em Uganda como dizendo: “Trabalhando com Guttmacher mudou a conversa. Mudamos de uma perspectiva carregada de valores moralísticos para debates com base em evidências.”
As mortes maternas em Uganda, inclusive as associadas ao aborto — são elevadas, mas estão diminuindo. O progresso sofre lentidão pela pobreza e infraestrutura médica insuficiente bem como o número de vítimas da epidemia da AIDS.
Então, que evidência o Guttmacher encontrou que é tão convincente para mudar as leis de aborto de Uganda?
Os emails destacam um estudo de 2013 em que os pesquisadores do Guttmacher quantificaram os custos para indivíduos e lares de complicações de aborto em Uganda. Eles tentam demonstrar que abortos “inseguros” e muitas vezes clandestinos têm custos de longo alcance além das mortes apenas.
A maioria das mulheres relatou efeitos negativos em sua produtividade, cuidado de seus filhos e economia doméstica. Considerando que as mulheres foram recrutadas para a pesquisa na base de terem sofrido complicações que exigem tratamento médico, essas descobertas não são surpresa. Que o impacto foi mais duro em mulheres mais pobres foi semelhantemente previsível, e qualquer estudo provavelmente revelaria resultados semelhantes para mulheres que sofrem de complicações de qualquer doença ou ferimento.
Embora o aborto seja ilegal na maioria dos casos em Uganda, há algumas exceções nebulosas. Os autores do estudo do Guttmacher não perguntaram diretamente às mulheres se elas haviam passado por abortos por opção, legal ou em outro caso, citando estigma generalizado. Em vez disso, eles usaram um método espontâneo desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde para classificar as perdas de gravidez das mulheres como espontâneas ou induzidas — significando que algumas das complicações das mulheres provavelmente foram resultados de abortos espontâneos que ocorrem naturalmente.
Embora os dados do Guttmacher propositadamente mostrem o impacto do aborto em indevidos e lares em Uganda, omitem vários outros fatos importantes. Eles recomendam expandir o acesso à contracepção, mas os dados da publicação do Guttmacher revelam que apenas 7,6% das mulheres com uma tão chamada “necessidade não atendida” de contraceptivos em Uganda citam falta de acesso (que é menos do que a média africana de 8,3%), e só 1% delas cita falta de conhecimento (menos do que a média africana de 6,1%).
Ainda que o uso corrente dos contraceptivos aumentasse, mortes de gravidez e parto permanecem um grande problema em Uganda, que tem um índice de mortalidade de 360 mortes de mulheres para cada 100.000 nascidos vivos, em comparação com 230 nos países em desenvolvimento e 16 nos países desenvolvidos.
Dados do Instituto de Indicadores e Avaliação de Saúde mostram que a mortalidade materna está caindo em Uganda, apesar dos efeitos agravantes do HIV na década de 1990, e que todas as causas estão decrescendo proporcionalmente. Aliás, o aborto como um subconjunto da mortalidade materna tem permanecido relativamente estável em recentes décadas.
Resta muito trabalho para se fazer pela saúde das mulheres em Uganda, e intervenções comprovadas tais como sistemas médicos fortalecidos, água limpa e bom transporte melhorarão as condições para todos os ugandenses, inclusive mulheres grávidas. Mas quanto a se contribuir para o Instituto Guttmacher ajudará no processo, a evidência é inconvincente.
Tradução: Julio Severo
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